O que é a mente?
A tentativa de entender o mundo esbarra, logo de saída, num obstáculo formidável: não sabemos como existe nem como funciona nossa principal ferramenta para lidar com o Universo – a mente. Graças a ela, dispomos de consciência, noção de individualidade e capacidades variadas, como aprender, avaliar, adorar, detestar e opinar. Até sabemos detectar os “sintomas” biológicos de um estado de espírito, como o amor e o prazer. Podemos também fazer o caminho inverso, ao fornecer estímulos químicos e detectar resultados comportamentais. Mas a ponte entre um lado e outro permanece um mistério. A mente é mais do que a atividade elétrica e química docérebro. “Na cardiologia, por exemplo, pode-se partir de uma única célula, agregar as outras peças e chegar ao sistema completo”, diz o psiquiatra Luiz Alberto Hetem, da Faculdade de Medicina da USP. “No cérebro, a coisa se perde em algum momento. Não há um contínuo que vá da célula até o sistema em funcionamento.”
Por que sonhamos?
Sigmund Freud deu ao mundo, em 1900, a idéia de que nossos sonhos teriam significados ocultos. Eles seriam uma tentativa do nosso inconsciente de realizar desejos, muitos dos quais não admitimos conscientemente. O conceito permanece difundido até hoje, mas neurologistas ainda procuram uma justificativa para os sonhos. Se eles são indispensáveis, por que orcas e golfinhos, mamíferos com cérebro desenvolvido, passam seu primeiro mês de vida sem dormir? Aliás, sonhos precisam de explicação biológica? Os psiquiatras Robert McCarley e Allan Hobson, da Universidade Harvard, nos EUA, quase tiraram a graça da história, em 1977. Para eles, o sonho seria apenas conseqüência da atividade elétrica do cérebro no sono, “sacudindo” memórias e pensamentos. A teoria ganhou opositores de todos os lados: psicólogos freudianos dizem que há sonhos altamente coerentes e alguns evolucionistas afirmam que sonhar é uma ótima forma de simular situações sem se expor a riscos.
Por que não usamos toda a capacidade do célebro?
Você já deve ter ouvido falar que o cérebro humano usa apenas 10% de sua capacidade. Apesar de baseada em conceitos verdadeiros, essa afirmação não passa de uma metáfora pobre. A verdade é que 100% da massa encefálica trabalha vigorosamente. O que não se explica é por que algumas pessoas comcérebro aparentemente comum têm habilidades como memória fotográfica ou eidética (capacidade de recordar grande quantidade de imagens e dados, como um atlas geográfico) e memória-calendário (capacidade de dizer em que dia da semana caiu ou cairá uma data a séculos de distância). Um dos primeiros exemplos bem documentados desse tipo de prodígio foi Thomas Bethune, ou Blind Tom (“Tom Cego” ) – um americano nascido em 1850, que além de cego era escravo e autista. Também era capaz de escutar 20 páginas de partitura uma só vez e tocá-las no piano. Aos 16 anos, Tom havia memorizado cerca de 7 mil músicas.
Por que a maior parte do DNA não faz proteína?
Só cerca de 2% do DNA humano responde pela construção de proteínas. Esses são os genes propriamente ditos. Até a década passada, pensávamos que todo o DNA era formado por genes, ou seja, que cada trecho era responsável pela construção de uma proteína, e que esses trechos se sucediam de forma ininterrupta. Estávamos errados. Os genes se intercalam com longos trechos de DNA ainda sem função conhecida. Esses trechos foram inicialmente chamados de junk DNA, ou “DNA lixo”. Hoje, muitos pesquisadores acreditam ser normal o acúmulo de restos genéticos que a evolução tornou inúteis. Acontece que alguns desses trechos de DNA têm comportamento ativo, ainda que inexplicável – por exemplo, há os transpósons, ou genes saltadores, que mudam de lugar aleatoriamente e podem causar mutações fatais.
Como funciona o efeito placebo?
O efeito placebo é conhecido há muito tempo, e respeitado a ponto de ser incluído em testes clínicos, para comparação com os efeitos dos medicamentos reais. Sabemos que ele se relaciona com a expectativa do paciente: o organismo, ao receber algo que a mente acredita ser remédio, é “convencido” a reagir de acordo. O mecanismo, ainda inexplicável, vem sendo estudado pelo médico Fabrizio Benedetti, da Universidade de Turim, Itália. No ano passado, ele monitorou a atividade cerebral de pacientes com mal de Parkinson, enquanto dava a eles uma solução salina inócua, que acreditavam ser remédio. Essa crença bastou para que os cérebros dos pacientes reagissem, reduzindo sintomas da doença, como tremores e rigidez. No sentido oposto, pacientes que eram tratados com remédio verdadeiro, mas sem o saber, continuavam manifestando os sintomas.
O que acelera a expansão do universo?
Que o Universo se expande, já sabemos desde 1929, quando o astrônomo norte-americano Edwin Hubble estudou o movimento de galáxias distantes. Mas faz apenas 7 anos que o Hubble – não o astrônomo, e sim o telescópio espacial batizado em sua homenagem – provou que essa expansão está acelerando. Que estranha força antigravidade seria essa? Alguns modelos foram propostos, incluindo nomes aparentemente saídos de Star Wars, como energia fantasma e quintáxion. Essas alternativas receberam o nome genérico de “energia escura”, pela dificuldade de detectá-la e por analogia com a também indecifrável “matéria escura” (veja na pág. 64). A “energia escura”, seja o que for, poderia contribuir com até 70% da densidade necessária para que o Universo tenha a forma que tem. Sem ela, o Universo – e nosso conhecimento sobre ele – ficam com um imenso vazio a preencher.
Como a homeopatia dá resultado?
A resposta mais fácil é o efeito placebo (veja na pág. 64). A história ficou mais complicada desde que um grupo de cientistas céticos, entre eles a farmacologista irlandesa Madeleine Ennis, afirmou ter detectado efeitos dahomeopatia em glóbulos brancos, em laboratório, em 2001. Como se sabe, glóbulos brancos não esperam nada do tratamento, ou seja, não são suscetíveis ao efeito placebo. Madeleine afirmou que sua pesquisa não comprovava o funcionamento da homeopatia – apenas constatava um fenômeno inexplicado. Na homeopatia, a substância original é diluída até milhões de vezes: o produto final é quase água pura. A tese central do tratamento, formulada pelo biólogo francês Jacques Benveniste, é de que a água retém propriedades da substância original, graças a uma “memória química” – o que não significa nada para a ciência ortodoxa. “Somos incapazes de explicar os dados e os reportamos para encorajar outros a investigar o fenômeno”, disse Madeleine.
Por que tanta gente vê ovnis?
Os ufólogos entraram no novo milênio animadíssimos com a publicação do livro Open Skies, Closed Minds (“Céus Abertos, Mentes Fechadas”, inédito no Brasil). O autor, Nick Pope, defende que pelo menos parte dos supostos avistamentos de objetos voadores não identificados (ovnis) sobre a Grã-Bretanha corresponde mesmo a artefatos de origem desconhecida e tecnologia ultra-avançada. Pope virou celebridade porque tem currículo diferente da maioria dos ufólogos: é um alto funcionário do Ministério da Defesa britânico. Apesar de nunca deixarem evidências inquestionáveis, os “contatos imediatos” ocorrem no mundo todo, com pessoas de todos os tipos – incluindo pilotos de aeronaves militares e civis. Ufólogos americanos afirmam que entre 15 milhões e 20 milhões de pessoas nos EUA dizem já ter visto ovnis. Alucinações coletivas existem, mas, se é esse o caso, ainda não há explicação razoável sobre por que essa, especificamente, seria tão freqüente e difundida.
FONTE : REVISTA SUPER INTERESSANTE !